O elo perdido: Zinco

Alguns nutricionistas acham que o zinco pode estar sendo fornecido em pequenas quantidades nas dietas ocidentais modernas, e existe uma opinião crescente de que estamos mais sujeitos a apresentar uma deficiência de zinco do que de ferro. é bem provável que no futuro os cereais matinais possam ser fortificados também com o zinco.

O zinco ajuda nosso corpo de duas maneiras: ele está presente em várias enzimas, e mais de uma centena que o contém já foram identificadas; e faz parte da proteína que atua como um dos fatores de transcrição, e estes parecem ser ainda mais numerosos (transcrição é o processo pelo qual RNA é sintetizado a partir de um molde de DNA).

A presença de zinco nas enzimas foi a primeira das suas funções a ser reconhecida, sendo ele o protagonista da maioria destas enzimas – especialmente das que regulam o crescimento, desenvolvimento, longevidade e fertilidade. Pessoas que vivem em algumas partes do mundo, especialmente no Oriente Médio e Egito onde a quantidade de zinco no solo é baixa, podem exibir sintomas originados pela carência de zinco tais como o retardamento de crescimento.

A importância do zinco para certas enzimas foi descoberta no início do século XX, mas foi somente em 1968, no Irã, que os primeiros casos da deficiência de zinco vieram à luz. Foi no Irã que o Dr. Ananda Prasad ficou intrigado por um de seus paciente, um jovem de21 anos, que tinha o peso e o desenvolvimento sexual de um garoto de 10 anos. A sua dieta consistia principalmente em pão sem fermento, leite e batatas. Ele não era o único com os mesmo problemas de desenvolvimento. A partir do seu conhecimento dos efeitos da deficiência de zinco em animais, o médico suspeitou que aqueles homens sofriam do mesmo tipo de condição, embora previamente ela não houvesse sido diagnosticada em humanos. Quando Prasad transferiu-se para o Egito ele começou a pesquisar este problema de forma mais profunda, utilizando como sujeitos os jovens que haviam sido recusados pelas forças armadas egípcias devido a sua estatura, similar à dos pigmeus. Usando a metodologia do teste duplo-cego com suplementos de sulfato de zinco ou placebo, ele foi capaz de demonstrar que a deficiência de zinco realmente era a causa, e em 1972 Prasad publicou seus resultados. Ele se tornou um autoridade mundialmente reconhecida no metabolismo do zinco, e escreveu um livro, The Biochemistry of Zinc que passou a ser o trabalho definitivo de referência neste assunto. O livro também inclui considerações da disfunção genética conhecida como acrodermatite enterofática, que antes era considerada fatal para as crianças que nasciam com esta disfunção, mas que agora podem ser curadas com doses de zinco.

Para a maioria das pessoas, a ingestão de zinco não é um problema. Um adulto padrão contém cerca de 2,5 g, principalmente nos tecidos e músculos, e da ingestão dos alimentos ele obtém de 5 a 40 mg ao dia, dependendo de sua predileção por carne. A ingestão pelos homens deve ser de aproximadamente 7,5 mg ao dia e a das mulheres, 5,5 mg. Carne de boi, cordeiro e fígado apresentam os maiores níveis de zinco, como também o fazem ostras, arenque e a maioria dos queijos. Vegetarianos estritos podem conseguir zinco de sementes de girassol e abóbora, levedura de cerveja, melados e farelo de cereais.

Em nosso corpo os níveis de zinco sã maiores na próstata, músculos, rins e fígado; o sêmen é particularmente rico em zinco. Algumas evidências sugerem para alguns poucos indivíduos, mesmo nos ocidentais, que a sua alimentação pode ser deficiente neste elemento, em que isto seria responsável pela baixa contagem de espermatozoides nos homens de algumas regiões. Ostras são uns dos alimentos mais ricos em zinco e uma libra (1 libra = 453,59 g) delas fornece 120 mg. O grande amante do século XVIII, Casanova, se regojizava com elas, apesar de ele desconhecer o fato de que elas estariam aumentando os níveis de zinco, que poderiam estar sendo diminuídos pelas suas atividades promíscuas.

O zinco também desempenha uma função no que diz respeito ao álcool. O álcool é quebrado no fígado por enzimas chamadas de álcool desidrogenase, que tem um átomo de zinco em seu centro. O consumo excessivo de álcool danifica o fígado, e já é conhecido há muito tempo que os doentes de cirrose têm baixos teores de zinco neste órgão vital. Mais uma vez, se o dano não é severo, suplementos de zinco podem restabelecer as funções do fígado.

Felizmente, os sais de zinco não são tóxicos aos humanos, e podem ser adquiridos em várias farmácias. Esses sais são frequentemente recomendados para enfermidades em que os tratamentos convencionais parecem não funcionar, como nos casos de anorexia nervosa, tensão pré-menstrual, acne e o resfriado comum.

Qual deveria ser a ingestão de ferro, magnésio e zinco para uma pessoa padrão? Se você é mulher preocupe-se com o ferro e se você é homem com o zinco. Ambos os sexos, na verdade, devem escutar os conselhos da vovó e começar o seu dia com uma boa tigela de farelo de cereais. Se bem que estes alimentos sejam recomendados por causa das fibras que o contêm, eles também podem fornecer muitos metais úteis, como a tabela abaixo.

O farelo é a casca protetora dos cereais. Essa casca é geralmente removida quando se faz a farinha, porque é constituída essencialmente de celulose que o nosso organismo não pode digerir, embora atue como a fibra que nos ajuda a manter a saúde regular. A tabela fornece as quantidades diárias recomendadas para os sete metais mais importantes requeridos pelo nosso organismo, e também a quantidade que você conseguiria ao ingerir uma tigela no seu café da manhã. Este farelo pode ser tomado com leite desnatado, o que aumentaria a quantidade de alguns metais como sódio e cálcio. Os cereais consumidos no dia-adia, podem fornecer as quantidades diárias necessárias pelo homem, principalmente os do cafe-da-manhã.

Texto adaptado, retirado do livro Moléculas em Exposição: o fantástico mundo das substâncias e dos materiais que fazem parte do nosso dia-a-dia. John Emsley. São Paulo: Edgar blücher, 2001. p. 43-44.

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