Marie Curie

Ela venceu o preconceito para desvendar os mistérios da radioatividade. Contribuiu muito para a medicina, mas pagou o preço com sua vida.

Ganhar um Prêmio Nobel é tido como um dos mais seguros termômetros de brilhantismo. Pois Marie Curie ganhou dois. Em campos diferentes. Na história da ciência, apenas mais uma pessoa atingiu glória similar – Linus Paulling. Mas um dos que ele conquistou era o da Paz e nada tinha a ver com seu trabalho como pesquisador. Já os dela eram ambos científicos: Física e Química. E se hoje há quem denuncie que existe preconceito contra as mulheres nos meios acadêmicos, calcula-se como era no fim do século 19.

Parece que enfrentar – e superar – barreiras com competência e brilhantismo, foi a sina de Marie Curie durante toda a vida. Nascida Maria Sklodowska em Varsóvia, na Polônia, em 1867, ela era a filha caçula de um casal de professores. Mas sua família esteve muito ligada a movimentos que buscavam a independência polonesa e sofreram represálias da Rússia, que dominava aquela parte do país.

Para se formar em física e química, ele teve de estudar em Paris. Graduou-se na Sorbonne e, quando tentou retornar a seu país de origem para trabalhar em seu campo de estudo, foi recusada pela Universidade de Cracóvia pelo simples fato de ser mulher. Diante disso, ela estabeleceu-se definitivamente na França e, em 1895, casou-se com Pierre Curie, também físico.

Juntos eles iniciaram as investigações sobre a radioatividade (termo que ela inventou), recém-descoberta por Henri Becquerel em 1896. O francês havia descoberto que minérios de urânio emitam uma estranha forma de radiação, e o casal Curie contribuiu imensamente para a compreensão do fenômeno. Entre outras coisas, eles descobriram que a radiação era emitida pelos próprios átomos individualmente, e não por alguma interação molecular.

Pelo trabalho com a radioatividade, o trio (Becquerel, Pierre e Marie CUrie) recebeu o Prêmio Nobel em Física em 1903.

NOVOS ELEMENTOS

Ao prosseguir na pesquisa com os minérios de urânio, Marie percebeu (desta vez sem a participação de Becquerel ou de seu marido) que, se seus cálculos estivessem ali com capacidade radioativa ainda maior.

Essa foi a trilha que levou à descoberta dos elementos polônio (batizado em homenagem à sua terra natal) e rádio, ambos descobertos em 1898. Os dois achados seriam a razão que levou a Academia Real de Ciências da Suécia a conceder a ela um segundo Nobel, em Química, em 1911.

Apesar da fama e da reputação conquistadas, Curie ainda enfrentava o preconceito. No mesmo ano em que receberia seu segundo Nobel, a Academia Francesa de Ciências não a elegeu como membro por dois votos.

Não era o tipo de coisa que ela aceitava com naturalidade. “Como várias cientistas mulheres de destaque, ela parecia desejosa de que seu sexo fosse visto como irrelevante”, diz Philip Ball, químico, físico e escritor britânico. “Infelizmente, não era”.

Mais do que desvendar os mistérios da radioatividade, Marie Curie desenvolveu rapidamente aplicações médicas para suas descobertas. Durante a Primeira Guerra Mundia, criou unidades móveis de radiografia, que foram apelidadas de “petites /curies”.

Depois de armistício, ela continuou mobilizada, buscando recursos para fundar dois institutos de estudo dp rádio, um em Paris e outro em Varsóvia, na Polônia. Ambos, continuam gerando pesquisas médicas importantes até hoje.

Pierre Curie morreu jovem, em 1906, vítima de um atropelamento. Marie brilhou sozinha durante praticamente toda a carreira, mas a solidão a atormentou durante longos anos. E sua pesquisa, com a radioatividade, ao fim e ao cabo, pagou o preço. Ela morreu de anemia aplástica, causada pela manipulação constante de material radioativo, em 1934. Mas deixou um exemplo que brilha até hoje no panteão dos heróis científicos da humanidade.

O casal Curie também teve uma filha que também seguiu a vida científica. Irène Curie foi uma física francesa nascida em Paris a 12 de Setembro de 1897. Estudou na Sorbonne e exerceu a profissão de enfermeira na Primeira Guerra Mundial. O seu primeiro artigo científico foi escrito em 1921. Irène Curie trabalhou no Instituto do Rádio da Universidade de Paris, onde conheceu Jean Frédéric Joliot, com quem acabou por casar no ano de 1926.

Ganharam conjuntamente o Prêmio Nobel da Química de 1935 pelos seus trabalhos na indução artificial de radioatividade. Em 1936, Irène trabalhou como secretária de investigação no governo de Léon Blum. No entanto, mais tarde, decidiu concentrar-se apenas no seu trabalho científico, que continuou mesmo durante a ocupação da França na Segunda Guerra Mundial.
Em 1944 teve de fugir para a SuÍça. Mas, devido à militância comunista do seu marido, Irène Curie foi afastada da Comissão Francesa de Energia Atômica, em 1951. Morreu em Paris no dia 17 de Março de 1956.
CURIOSIDADE DE MADAME CURIE
  1. A vida dedicada à ciência não a impediu de formar família. Marie teve duas filhas com Pierre Curie, Irène (1897) e Ève (1904), e contratou governantas polonesas para ensinar às filhas sua língua natal.
  2. Marie foi a primeira mulher a ganhar Prêmio Nobel e a primeira a ganhar dois. O dinheiro das premiações foi distribuído entre conhecidos que passavam por aperto financeiro, inclusive estudantes.
  3. Os perigos da radioatividade eram desconhecidos, então Marie não tomava nenhuma precaução em seus estudos. Por causa disso, até seu livro de receitas se tornou altamente radioativo e até hoje só pode ser manipulado com roupas protetoras.

Fonte: Revista Super Interessante – Por dentro da mente de 29 Gênios. Coleções. Edição 304-A. Maio, 2012.

http://www.explicatorium.com/Irene-Curie.php

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